Margarida Mendes
Porta33 - 01.12.2018

Margarida Mendes

Do desenho como metalinguagem ao desenho como explicação do mundo e das vidas que o habitam. Do desenho como poder à escala planetária.

Margarida Mendes é curadora, educadora e ativista. Em 2009 fundou o espaço de projetos The Barber Shop, em Lisboa, coordenando um programa de seminários e residências dedicado à investigação artística e filosófica. A sua pesquisa - com enfoque no cruzamento da cibernética, filosofia, ecologia e filme experimental - explora as transformações dinâmicas do ambiente e o seu impacto nas estruturas sociais e no campo da produção cultural. Em 2016 integrou a equipa curatorial da 11.ª Gwangju Biennale, na Coreia do Sul, e codirigiu a temporada piloto de Escuelita, uma escola informal no Centro de Arte Dos de Mayo (CA2M), Madrid. Em 2018 foi cocuradora da exposição ‘Digestion School’, integrante na 4.ª Bienal de Design de Istambul, ‘A School of Schools’. 

No âmbito do ciclo de reflexões em torno do desenho, promovido pela Porta 33, Margarida Mendes proferiu uma palestra cuja narrativa central se desenvolveu à volta de conceitos ecológicos que serviram de ponto de partida para grandes temáticas que se cruzam com a linguagem do desenho. Termos como escala, fronteira ou abstração foram os escolhidos por Margarida Mendes para apontar a este movimento de aproximação, à escala planetária, entre a representação gráfica [e o que se esconde para lá desta] e a própria vida.

A investigadora começou por abordar o conceito de escala, mostrando uma “imagem famosa” recolhida pela sonda Lunar Orbiter, lançada a 10 de agosto de 1966, nos Estados Unidos. “Esta é uma das primeiras imagens da Terra enquadrada a partir da lua. Isto situa-nos enquanto humanos que pensam pela primeira vez a uma escala planetária.”, afirmou, sublinhando tratar-se de “uma imagem revolucionária, que nos ajuda a pensar sobre escala, sobre a violência climática e a distribuição de recursos.”

Da ideia de escala, partiu, depois, para a ideia de fronteira/limite, e contou que, durante a sua viagem até à Madeira, conseguiu ver, pela primeira vez, a Fossa Abissal. “A ideia de fronteira é tão interessante (…) Nós andamos a pensar sobre esta fronteira que é o mar profundo e, de facto, ela está cada vez mais próxima.”, notou.

O oceano profundo é, aliás, o grande objeto de pesquisa de Margarida Mendes. “Numa época em que falamos, cada vez mais, da economia azul, esta última fronteira de recursos a explorar será desbravada como uma corrida ao ouro.”, disse, fazendo questão de vincar que os artistas, atuando, “em particular, sobre os universos do sensível”, assumem um papel fundamental na defesa da causa ecológica: “acredito no poder do porta-voz do sensível para chegarmos a um nível de entendimento (…) Todos nós temos lápis para afiar, como diz o Nuno Faria. Todos nós decidimos como é que a nossa passagem se relaciona com o mundo.”

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